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Verde Visões
R$ 55,00
Nos primeiros versos de "Verdes Visões", de Ronir Raggio Luiz, recém-nascido pela editora Toca, o poeta causa estalos em nossos hábitos, em nossas escolhas e modos de existir.
Os poemas, ritmados para que nos conduza a refletir melhor, seguem clamando urgências: urgência do estômago vazio como cratera, pressa pelo fim da festa privada do lucro, angústia da espera por alguma ação que nos mova do nosso ego, que nos torne maiores ou menores, desde que inflame um tipo de "esperança obscena".
O autor, aguerrido e ferido até mesmo por sua impotência, não abandona, porém, o mistério do amor. Por sinal, o único desamparo permitido em Ronir é o bem-vindo amor (fujo do medo da minha fuga), desde que volte hoje e amanhã à prisão. E nunca se esqueça da maçã. No esforço de dar corpo e voz ao sublime, ao íntimo que se produz nos e entre os corpos, Ronir busca um tato no escuro, um reencontro com a ternura na minuciosa anatomia do desejo.
É recorrente também um tipo de amargura de quem sente e precisa se conformar com uma paralisia, uma impossibilidade de redimir a vida, senão pelos poemas. É disso que trata "Quadro infame" com seus versos marcantes: "o vazio de um prato; um não, milhões" que iguala a vida de milhares de brasileiros a micróbios virulentos, violentos, imorais.
Portanto, em Ronir a saída, ou melhor, uma espécie de voo polissêmico que adiaria a queda, se torna possível através das asas da poesia. É assim, em um dos poemas, que o autor nos dá a conhecer uma fênix alvissareira de sugestivo nome: Silva Nascimento. Nasce um Silva, que é o mesmo que dizer a brava gente brasileira, onde reside uma esperança possível de se realizar.
Vale exaltar os desenhos de Tainá Brugner-Luiz, que povoam o livro como baques na retina os quais você não alcança entender e por isso mesmo sente tudo, com todos os poros. Seus traços e cores são portais totêmicos para um turbilhão de eventos, sensações, imagens viscerais, ambíguas e até realidade oníricas.
Enfim, na obra "Verdes Visões", somos lidos pelos poemas que lemos. Neles, estancamos a dor do pesadelo, e se não fomos sonetos, reinventamos a nós mesmos ou acreditamos ao menos. Ao fim, nos resta o lugar da memória, na bonança de um tempo ao qual poderemos retornar sempre e de novo, e de novo mais uma vez.
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