(51) 98020-6581
Olhos de Jardineiro - Gediel Pinheiro de Sousa
R$ 60,00
AS FLORES-PALAVRAS
do poeta-jardineiro Gediel Pinheiro de Sousa
Logo no prólogo, Gediel Pinheiro de Sousa nos dá a conhecer sua gênese ou a genealogia de seu silêncio poético. Foram muitas primaveras (50 anos) até que o poeta fizesse o parto desejado.
Deste o início, admito que a leitura me tomou de curiosidade: não só pelas próximas páginas, mas pelos anos anteriores, quando a palavra existia em suspensão, quando era apenas sonhada. Penso que naqueles anos de não-escrita, Gediel produzia toda sua obra, mesmo aquela que ainda está por vir.
Não à toa, o poema de abertura (de nascimento) é sobre sua Mãe, ou melhor, sobre a voz de onde o poeta vem: o "filho inacabado" tanto pode ser aquele que a mãe concebeu e amou, quanto a obra ainda nascente.
Os poemas do livro "Olhos de Jardineiro", publicado pela Editora Metamorfose, parecem exigir de nós, musculatura e o derramamento do nosso suor. Sim, é poesia para se ler suando e em voz alta, porque cada palavra são "torneios na voz", como diz Luiz Tatit, rebuscadas talvez, mas muito mais porque incorporam o legado da língua. Dizendo de outro modo: a leitura parece atravessar a história da linguagem e seus estilos, e a palavra torneada, rara, re-buscada não se faz em vão: ela almeja alcançar toda profundidade de seus significados.
Atravessamos segredos poéticos bem diante de nossos olhos, segundo Gedi, numa "armação do oculto", cifrada porque vezes medonha, vezes bizarra - "um circuito de horrores e chamego ao som que ecoa o revés do mundo".
Por sinal, ainda que com verve lúdica e, repito, com uma carpintaria gramatical nostálgica, a obra é também um espasmo de revolta contra aquilo que o poeta repudia no mundo, aquilo que a inocência não vê em toda nossa brutalidade: "nasceu, viveu, se vai/ na outra ponta o útero se contrai".
Por falar em útero, no percurso da leitura, temos a apoteose da mulher como símbolo mesmo do universo, que nutre com seu colostro, que "ama um embrião sem rosto" (belíssimo!), o teor melódico da poética de Gediel. E Gediel é todo paixão, é as duas metades, é dentro, é fora. Suas palavras são vulcânicas, mesmo quando andarilhas, algorítmicas, infográficas do entorno - nessa eu plagiei um trecho dele.
Portanto, estamos diante de sua majestade - a palavra (aliás, nome de outro poema), que nos coloca na perspectiva desse olhar de minúcias, de micro cosmogonias, onde testemunhamos suas "vidas secretas com fissuras e fantasmas"; onde testemunhamos o parto de suas crias, a vertigem de seus sonhos lúcidos, a insensata lucidez da sua intuição.
Se fossem só letras rebuscadas, não retratariam a paisagem da sua alma, como o fazem. Ao contrário, e parafraseando Aline Almeida, "Olhos de Jardineiro é uma manifestação afetiva de palavras que encantam o leitor, colocando-o diante de um passado vivido, de um presente sendo mastigado (e eu diria: nutrido) e de um futuro que se desdobra em flores-palavras".
Quantidade