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Selo Toca

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Palavras de Papel - Anabela Rute Kohlmann Ferrarini

Preço

R$ 45,00

NAS BORDAS DO MUNDO

notas engasgadas para o livro "Palavras de Papel", de Anabela Kohlmann Ferrarini.

 

Comecei a ler Anabela Ferrarini sem perceber quando se deu o engasgo na garganta. De fato, o livro "Palavras de papel" (Selo Toca), fruto de dores pessoais e coletiva transbordadas pela poeta no período de pandemia da COVID-19 e, depois, contemplado em edital de incentivo à literatura mato-grossense, nos lança num vórtice de emoções profundas.

 

O livro é dividido em três seções ("Papel de seda", "Papel crepom" e "Papel pedra"), por onde Anabela atravessa a vida do eu-lírico como qualquer outro organismo em estado de natureza - da leveza à (ma)dureza, impostos pela feitura do tempo. A força poética da autora surge do próprio aprendizado que se extrai dos fenômenos naturais - um rio, uma lua, o afeto cultivado.

 

Como se não estivesse em seus planos arrebatar o leitor (senão curar suas feridas), ao expor suas dores, perdas e bruta esperança, quase à revelia da vida, a autora provoca em nós uma reflexão madura, doída e silenciosa, sobre o ato pueril que é viver, e por isso mesmo, digno da nossa alegria mais absurda.

 

A trilogia de abertura - da menina tecelã à moça fiandeira e à mulher rendeira - dá o tom do livro e nos absorve para a criação de mundo da poeta e sua capacidade de tecer, fiar, enfeitar as bordas do tempo-mundo implacável, enquanto descansamos das dores pelas quais, na vigília, o corpo é atravessado. Afinal, é nossa memória a artesã capaz de tecer um bordado para uma jornada que pode ser bastante dura. Portanto, se a vida tem sua grandeza e violência implacáveis, somos nós que a enfeitamos através das amizades, das recordações infantis, de um amor perdido ou de uma doce leitura.

 

Essa é a lição que nos lega: se é a agulha da existência que tece nosso destino, de onde, sem dúvida, surgem tessituras belas, é inevitável que a costura também nos fira a alma no processo. Portanto, a escrita da poeta sempre atravessará essa dupla dor (prazer e sofrimento): a memória feliz acontece em meio a descaminhos e perdas, ao mesmo tempo em que pode ganhar luz nova ao ser enfeitada por uma costura delicada que alinhava saudade e poesia. Aliás, tudo aqui se chama saudade.

 

E, desse modo, onde o "tempo costurou os segundos e envelheci como quem amou", Anabela desenha o jogo da amarelinha no chão, e faz do céu e inferno sua brincadeira a sério. Ou, em suas palavras: "e que cada humana criatura, nesse mundo louco e belo, ria na cara da dor". Às vezes o riso não é possível, senão o consolo de que, em braços alados, nosso corpo demasiado humano poderá descansar.

 

Em tempo: vale dizer que o material está disponível em audiobook (podendo ser conferido a partir de abril no Spotfy); em e-book; em versão preparada para pessoas com dificuldade visual (fonte aumentada) e formato A4; e no formato convencional, A5, disponíveis para compra no site da Editora Toca.

Quantidade

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