Com todo o tempo do mundo

Que grata surpresa senti, ao ler o romance "Com todo o tempo do mundo", de Karin Bender, editado pela Toca. Nada me havia preparado para a história de Alícia e sua busca pela desconhecida mãe, a famosa bailarina Ellen. 

Na obra, a autora trata sua matéria-prima com a destreza de uma Deusa benevolente, narrando os fatos e nos dando a conhecer aquelas personagens de um modo repleto de compaixão. Erros e acertos, aqui, criam desdobramentos para uma vida inteira, e Karin parece nos sugerir que nossas escolhas carregam inevitáveis aprendizados.

A prosa alterna uma miríade de tempos cronológicos e narradores; ainda assim, a leitura não resulta confusa. Ao contrário: o turbilhão de emoções transita pelos corpos como se fosse o verdadeiro protagonista (e nosso guia) no enredo. Quem também atravessa a história é a figura poderosa do mar, e portanto o ritmo da prosa tem parentesco com a dinâmica fluida, ora violenta, ora plácida, desse monumento da natureza, com suas profundidades e picardias.

Abordando temas como maternidade, memória e a singularidade do tempo, as vozes dessas mulheres (Alícia, Ellen, Karin) nos faz questionar sobre os desígnios do destino e nossa eterna busca por nós mesmos. Mais que tudo, é um estudo sobre o perdão e a capacidade humana de se reinventar, quando nos reconciliamos com aquilo que nasce depois do fim.