A Ferrugem do Sorriso - Patricïa Ytap

A Ferrugem no Sorriso, pela Toca Editora. São poemas feitos para caberem no fôlego de uma respiração. Então vou respirar fundo e tentar uma resenha nos moldes da poeta.

Existe na autora uma urgência em se livrar do livro com o seu livre dizer. Nada ou pouco nos poemas faz sentido... a não ser que seja SENTIDO. Sim, é preciso sentir para capturar suas palavras peixes, palavras fugidias. O compromisso de Ytap é com as palavras, com o tatear das sonoridades e cores escondidas no monocromatismo de uma língua simulacro de sensações, uma língua que se automatizou há tempos.

Desista, pois, de enlaçar um significado que apazigue seu cérebro, caro leitor e leitora. Volta e meia, você pensará ter descoberto algo, uma mensagem cifrada; porém, uh!, a possível combinação poderá falsear aquilo que o poema pretendeu: provocar choques e outros arranjos entre sons, letras, tons, desabafos, interjeições! Os desenhos que animam os textos confirmam a vocação surrealista da obra, isto é, o desejo de fazer a realidade pegar delírio, e, assim como uma criança manuseando o mundo, A Ferrugem no Sorriso está conversando com algo anterior ao nosso entendimento das coisas e nossa elaboração de pessoinhas bem estabelecidas: o papo aqui é com os primórdios da vida, é um estudo das cores, dos sons, dos ritmos, do íntimo quebra-cabeça do som do silêncio. Afinal, entre o baque do atabaque e o the book is on the table existe mais sentido do que supõe nossa van vanguarda cão de levantada guarda.

Tiago Tenório - Ator e Historiador